sexta-feira, outubro 30, 2009

Crônica em sala de aula

Na aula de Redação Jornalística de ontem, o exercício era fazer uma crônica. O tema era livre. Aí vai a minha.

P.S. Como tenho recebido muitos comentários negativos, gostaria de esclarecer que a crônica não representa necessariamente minha opinião pessoal. É só um texto, ok? Dito.


Poupe-me do seu bom dia
 
Nunca fui do tipo afetiva e me custava levantar o braço para acenar a um conhecido, ou mesmo a um parente, sem importar o grau de parentesco. Por isso, não costumava sacudir a mão para dar um tchau, apenas abria e fechava a palma com os dedos o tempo suficiente que demonstrasse educação. Atravessava a rua para não ter que cruzar com os pseudo-conhecidos – ex-professores, ex-colegas – que me perseguem no supermercado, na porta giratória de algum banco, entre uma cabeça e outra no elevador.
Nunca sei se paro, cumprimento, com ou sem beijo, se digo um oi alegre, se tiro ou não os óculos escuros. Na dúvida, finjo que não vi e sigo em frente. Confesso aqui que já fingi não ter ouvido, mesmo quando o ‘psiu’ ou ‘ei’ vem seguido do meu nome. Também finjo que não ouço o celular tocar, quando imagino que seja algo ou alguém com quem eu não queira falar. Não sei, me tira do meu confortável estado de inércia.
Ultimamente tenho me sentido incomodada com uma situação. Todos os dias, quando ando a caminho do trabalho, cedinho, antes das 7 horas, cruzo com uma senhora que deve beirar os 60. Acho que trabalha em uma creche, mais além da minha casa. Não sei de sua vida, digo que deve trabalhar lá porque apenas os centros infantis já estão abertos àquela hora por aquelas bandas. Nunca conversamos, mas tenho dito ‘bom dia’ por educação, afinal, nos vemos todas as manhãs.
A tendência de que qualquer relação se desenvolva me assusta, por que, sinceramente, não sei onde a nossa vai parar. Experimentei caminhar pelo lado oposto da estrada, do outro lado da rua, algumas vezes, mas quase sempre acabo esquecendo e cruzo novamente com ela. Tentei também pôr os óculos escuros, mesmo em dias nublados, para evitar o contato visual, ou apenas fixo os olhos em algum ponto do chão, mas sinto suas bagas arregaladas atrás do grau, carentes e pedintes, esperando pelo meu bom dia.
É como o estranho que escolhe sentar-se justamente ao meu lado no ônibus, mesmo que estejamos só nós dois ali dentro. A vontade é de recolher as sacolas que ele me fez tirar da poltrona do lado e sair, bronqueada, procurando outro assento. Só que, mais uma vez, fico e resisto aos meus impulsos e reações herdadas de uma família tipicamente italiana. Falando em família, vez por outra me ponho a pensar se seria um traço de infância, um esgotamento afetivo por ter sido esmagada e afofada demais quando criança. Sei não.
Vou confessar outra coisa: acho que tenho é medo de que a dona que caminha pelas manhãs à minha espera me pare e aperte minhas bochechas como a vovó fazia, e diga também: ‘tá rosada, tá gorda, tá bonita, tá saudável’. Se isso acontecesse, juro que pularia no seu pescoço, sem dó ou respeito pela idade. Se eu tiver coragem, quem sabe um dia o faça, daí me livro do peso de desejar-lhe bom dia.


domingo, outubro 25, 2009

Viajante sobre duas rodas

Um dia desses entrevistei o ciclista Ryan Howard. Ele é natural do Canadá, tem 38 anos, e desde os 19 viaja pelo mundo de bicicleta.